Periodontite e saúde mental: o que você precisa saber?

A periodontite é uma forma mais grave e evoluída da gengivite, que é uma inflamação na gengiva. Quando não tratada adequadamente, estende-se por todo o suporte do dente, deteriorando-o. A causa pode estar relacionada a transtornos mentais e o resultado, a perda dos dentes, além de uma série de complicações.
Periodontite e saúde mental: o que você precisa saber? Saúderia
Periodontite e saúde mental: o que você precisa saber? Saúderia

A periodontite é uma doença inflamatória e infecciosa crônica. As bactérias e substâncias inflamatórias que a desencadeiam podem parar na corrente sanguínea e criar uma situação fatal para a pessoa, no caso de uma endocardite bacteriana, por exemplo.

Por isso, devemos ter cuidados redobrados quanto à higienização bucal, pois essa é uma das formas de prevenir o aparecimento da periodontite. O consumo excessivo de bebidas alcoólicas, o tabagismo e o diabetes são outros fatores de risco para a periodontite.

Fala-se pouco sobre a relação entre periodontite e saúde mental. O estresse psicossocial e a depressão podem estar associados ao desenvolvimento da doença. Neste artigo, explicaremos como isso pode ocorrer.

O que é periodontite?

De acordo com Diego Lopes Tareszkiewicz, dentista e profissional de saúde especializado em Imunidade, Vacinas e Suplementação, a periodontite é a proliferação excessiva de bactérias na boca, gerando inflamação na gengiva e, ao longo do tempo, resulta na destruição do tecido que sustenta os dentes, deixando-os mais moles.

O especialista explica que normalmente a periodontite acontece por um acúmulo de biofilme e de placa no dente – conhecido como tártaro, perto da gengiva, fazendo com que ela se retrai. Ao se acumular, essa placa afasta o osso em volta do dente e com isso o indivíduo perde sua estrutura de suporte. “No futuro, você acaba perdendo esse dente por uma periodontite”, alerta.

É o dentista que faz o diagnóstico da periodontite e, uma vez detectada, a periodontite é irreversível e pode levar à perda permanente de dentes. A doença exige tratamento médico ou dentário.

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A periodontite é multifatorial 

Uma série de fatores desencadeiam a periodontite, que evolui devido à presença de bactérias desreguladas na boca. O dentista Diego informa que ela está comummente presente em pessoas idosas, e um dos motivos é a baixa imunidade do idoso, já que redução na imunidade pode provocar a doença.

Outro fator é a glicose descontrolada. Pessoas com esse problema têm uma chance maior de desenvolver periodontite. Por isso, um exame importante que deve ser feito com regularidade é a hemoglobina glicada. “Acima de 5,7 existe uma chance maior de a pessoa ter diabetes, por exemplo diabetes tipo 2, e com isso ter uma chance maior de periodontite”, afirma. Também pessoas com diabetes tipo 1 descontrolado, que precisam fazer o uso de insulina, são pacientes com maior chance de desenvolver a doença.

Pessoas com disbiose intestinal, que é quando a microbiota intestinal está sofrendo algum desequilíbrio de bactérias, têm mais chance de periodontite. A explicação está no fato de uma desregulagem das bactérias do intestino mudar as bactérias de todo o trato gastrointestinal, o que altera inclusive as bactérias da boca, fazendo com que diminua imunidade e apareça mais facilmente a periodontite.

Outros fatores são obesidade, sobrepeso, pessoas com distúrbios alimentares e uma dieta rica em carboidratos. Como, em nosso organismo, todo carboidrato vira açúcar, que é inflamatório, isso diminui a imunidade e inflama mais os tecidos, aumentando a chance de várias doenças, entra elas a periodontite.

Saúde mental: um importante fator de risco para periodontite

O dentista Diego afirma que tanto a periodontite como a gengivite podem estar associadas a fatores psicológicos, como estresse e depressão. Segundo o dentista, existe um exame que faz a medição do cortisol – o chamado hormônio do estresse. Se a pessoa está bastante estressada, o que é caracterizado pelo cortisol elevado, significa um estresse crônico. Logo, esse indivíduo produz substâncias maléficas para a saúde da boca e para o corpo como um todo. “O cortisol aumentado eleva as catecolaminas, principalmente a norepinefrina e a epinefrina (adrenalina). Isso faz crescer a resposta inflamatória dessa pessoa, reduzindo sua proteção imunológica”, explica.

Vamos entender: um indivíduo com uma resposta inflamatória exagerada, inflama mais a gengiva e os tecidos de sustentação dos dentes. Essa inflamação excessiva que a periodontite desencadeia causa a perda dental. “O estresse psicossocial, a depressão e o estresse do dia a dia causam alterações comportamentais. A pessoa que está com o estado depressivo não tem vontade de fazer mais nada, nem de sair da cama. Então, ela não vai fazer uma higiene oral adequada e isso aumenta a chance de periodontite”, ilustra Diego.

Outro efeito do estado depressivo ou transtorno psicológico é o aumento do uso de drogas lícitas, como álcool e tabaco, e ilícitas. Segundo o especialista, o álcool e o cigarro aumentam as chances de problemas na gengiva e, consequentemente, a periodontite.

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Periodontite e Alzheimer?

Já vimos até aqui que quando você tem uma periodontite significa que existe uma inflamação com uma infecção. Logo, a boca tem uma microbiota alterada. Mas o que é microbiota? “São bactérias que fazem parte do seu dia a dia e quando estão em desequilíbrio causado muitas vezes por uma infecção ou inflamação desencadeiam vários problemas”, explica Diego.

Uma bactéria que chama mais a atenção é a chamada Porphyromonas gingivalis, comumente encontrada em pessoas com desequilíbrio alimentar, que consomem açúcar exageradamente. Essa bactéria está presente em casos de periodontite e gengivite. A novidade na história é a seguinte: essa mesma bactéria já foi encontrada em cérebros de pessoas que faleceram com Alzheimer. “Foi feita a dissecção desse cérebro e encontrada a bactéria Porphyromonas gingivalis, geralmente presente em gengivas e bocas não saudáveis”, associa o especialista.

Esse fato reforça a necessidade de ter uma higiene bucal adequada, para que não aconteça uma mudança de microbiota tão profunda que possa, inclusive, suscitar doenças como Alzheimer, outras demências ou perda de memória no futuro.

Endocardite bacteriana: uma consequência fatal

A staphylococcus aureus, bactéria comumente encontrada em bocas com periodontite, pode acarretar uma doença chamada endocardite bacteriana, que é uma infecção do revestimento interno do coração, afetando as válvulas cardíacas. A endocardite infecciosa ocorre quando uma bactéria entra na corrente sanguínea e viaja para válvulas previamente lesionadas, aderindo-se a elas. Esta é uma condição seríssima que pode levar o indivíduo à morte.

“Não podemos segmentar o nosso corpo, que é integrado. As bactérias que estão na sua boca serão engolidas, passarão pelo esôfago, estômago, intestino e serão absorvidas. Essas bactérias entrarão na sua corrente sanguínea e circularão pelo seu corpo como um todo”, exemplifica Diego, para explicar que uma bactéria da boca pode se alojar nas válvulas cardíacas causando uma endocardite bacteriana.

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A periodontite pode acarretar outras doenças

Para o especialista, é fundamental aprender a não segmentar o corpo. As mesmas bactérias que estão na boca circulam pelo corpo e podem facilitar o aparecimento de doenças pulmonares, como a pneumonia.

Um outro fator destacado pelo dentista é o pH bucal.Quando temos uma boca desregulada, o pH fica alterado. Em geral, o pH do corpo humano é de 7,45 aproximadamente. Quando está acima disso, forma-se um pH mais básico, o que é benéfico para o organismo. “É bom fazer utilização de água com o pH mais alto para favorecer a sua saúde”, aconselha o dentista.

Ao contrário, o pH ácido favorece uma série de doenças. Ele pode ser ocasionado pela presença de ácido nos alimentos consumidos, por uma infecção na boca ou pelo indivíduo não fazer a limpeza adequada dos dentes, inclusive por não utilizar fio dental todos os dias.

Diego pontua que o pH mais ácido muda as bactérias da boca, que são as mesmas do sistema gastrointestinal. Sendo assim, as bactérias modificadas na boca vão ocasionar alterações no esôfago, estômago e intestino. “Essa mudança do perfil de bactérias favorece o aparecimento de doenças porque as bactérias modificadas no intestino, conhecido como segundo cérebro, compromete todo o sistema imunológico do nosso organismo.”

O especialista alerta ainda para o fato de que um intestino que contenha bactérias desreguladas pode propiciar o surgimento de doenças mentais como depressão e outros transtornos psicológicos, além de diminuir a imunidade e fazer com que apareçam resfriados recorrentes.

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