Cuidar do intestino pode melhorar até a depressão

Intestino saudável absorve melhor os nutrientes, previne o surgimento de várias doenças e eleva a produção de serotonina, hormônio da felicidade
Cuidar do intestino pode melhorar até a depressão
Cuidar do intestino pode melhorar até a depressão

Um intestino saudável representa bem-estar e saúde. Todos os nutrientes e hormônios são absorvidos pelo intestino. Por isso, não adianta suplementar ou tomar vitaminas se ele estiver ruim, porque, dessa forma, o organismo não terá o que precisa e você gastará dinheiro em vão.

O intestino deixou de ser classificado apenas como um órgão de digestão, transporte e absorção de nutrientes e ganhou o status de “elemento pensante” do corpo humano. Com aproximadamente 500 milhões de células nervosas e até nove metros de comprimento, sua rede de neurônios percorre todo o abdome, comunicando-se com o nosso sistema nervoso central.

No entanto, os avanços da ciência vêm mostrando que sentimentos e comportamentos também podem ser influenciados pelo intestino. Entre as explicações para isso está justamente essa rede de neurônios, que libera neurotransmissores como a dopamina, relacionada ao prazer e à motivação, e a serotonina, que ajuda a regular humor, sono e apetite.

Por isso, não seria exagero afirmar que um desequilíbrio no funcionamento do intestino poderia originar quadros de ansiedade e depressão.

Intestino pode ser nosso segundo cérebro

A ginecologista Mariana Rosário é uma grande defensora dessa tese. Ela afirma que o intestino tem sido considerado como nosso segundo cérebro, principalmente pela responsabilidade em produzir serotonina, conhecida como o hormônio da felicidade. “Atualmente, sabemos que quase 80% da serotonina que produzimos vem do intestino e não do cérebro”, explica a médica.

Mariana acrescenta que muitas pessoas que tomam remédios para depressão durante anos possuem mau funcionamento do intestino, mas nunca associaram um fato ao outro. Segundo ela, ao tratar o intestino, é possível tratar também a depressão, já que muitos desses medicamentos têm como função aumentar os níveis de serotonina no organismo.

Não se trata aqui de abandonar o seu tratamento contra depressão. Nunca interrompa um medicamento por conta própria. O que estamos dizendo é que, ao saber disso, você pode voltar ao seu médico e avaliar a sua condição clínica. Veja com ele o que você pode fazer para melhor o funcionamento do seu intestino e – quem sabe? – deixar de tomar remédio contra depressão em um futuro breve.

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Por que a microbiota intestinal é tão importante

Para entender por que o intestino é nosso segundo cérebro precisamos saber o que é microbiota. Antigamente conhecida como flora intestinal, a microbiota é a grande variedade de microrganismos que habitam o corpo. “Somos habitados por trilhões de bactérias, fungos e outros seres, e o intestino é o principal local onde eles vivem”, explica a médica.

O que talvez você não saiba é que a microbiota do organismo acaba sendo apenas uma. Dessa forma, pode-se dizer que a microbiota intestinal se repete na boca, no esôfago, no estômago, na vagina. Esta, por exemplo, é muito parecida com a microbiota do intestino, por isso a maioria das pacientes que têm infecções vaginais de repetição também apresentam problemas na microbiota intestinal.

Portanto, quando você tem um desequilíbrio na microbiota intestinal, consequentemente terá um desbalanço na microbiota vaginal, o que pode causar a famosa e incômoda candidíase – infecção provocada pelo fungo Cândida, famoso por afetar órgãos genitais femininos. “A Cândida é parte da flora vaginal, mora ali. Quando ela cresce é porque houve algum desbalanço: alguma bactéria diminuiu ou aumentou ou ocorreram alterações no pH da microbiota intestinal. Tudo isso faz com que a Cândida consiga se reproduzir de forma desordenada, causando a vaginite”, explica a ginecologista.

Mau funcionamento do intestino pode provocar outras doenças

É possível que muitas doenças comecem no intestino: doenças autoimunes como lúpus, artrite reumatoide e tireoidite de Hashimoto, diabetes e pressão alta são alguns exemplos. Além delas, muitos cânceres originam-se no intestino.

Muitos outros problemas poderiam ser evitados com uma boa alimentação. “Comemos mal e, com isso, prejudicamos o funcionamento do intestino, alterando toda a sua capacidade de absorção. Temos um tecido imunológico dentro da mucosa intestinal. Então, qualquer alteração de permeabilidade e absorção pode provocar inflamação local”, alerta a médica. E essa inflamação poderá ser o ponto de partida para muitas outras doenças.

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Como saber se está tudo bem com seu intestino

O primeiro alerta médico é que não basta o intestino funcionar todos os dias. Isso não significa que esteja saudável. “Além de funcionar regularmente, o aspecto das fezes deve estar adequado, nem dura, nem mole”, observa.

Outro ponto é observar a presença de gases e distensão abdominal. De acordo com a médica, esses sintomas indicam desequilíbrio, pois não é normal que ocorram. “O intestino tem que ficar quietinho. Aqueles pacientes com excesso de gases ou que comem e ficam com o abdome distendido revelam que têm algo para ser ajustado”.

Para verificar se está tudo bem, primeiramente vai ser necessário fazer uma investigação clínica detalhada de como anda a saúde intestinal do paciente. Se o especialista achar necessário, pode complementar com o exame de colonoscopia, para avaliar problemas físicos locais. “Alguns pacientes têm obstipação, que é a constipação intestinal, o chamado intestino preso, por defeitos físicos, como megacólon. Existe também o intestino que não funciona tão bem e tão rapidamente. Tudo isso pode ser avaliado na colonoscopia”, aponta a médica.

Por fim, existe a avaliação da microbiota. São testes genéticos realizados com indicação médica que fazem o mapeamento completo da microbiota intestinal para verificar se há necessidade ou não de reposição de algum microorganismo. De acordo com Mariana, esse painel genético analisa detalhadamente a microbiota do organismo inteiro e permite ver quais são as cepas predominantes e o que está em falta. “Esses testes apontam riscos futuros, doenças que possam vir a se desenvolver”, completa a especialista.

Probióticos: o que são e o que eles têm a ver com a saúde do intestino

Probióticos são microrganismos vivos que atuam no corpo para facilitar a digestão e a absorção de nutrientes. Eles promovem o aumento das bactérias “do bem” no intestino e impedem a proliferação das bactérias “do mal”, responsáveis por doenças. Em resumo, ajudam a manter o equilíbrio da microbiota intestinal. Os probióticos podem ser encontrados em alimentos como iogurte, kefir, chucrute e fermentados à base de soja, mas também são vendidos como suplementos na forma de cápsulas, comprimidos, pós e fórmulas líquidas.

Além dos probióticos, existem os prebióticos – elementos nutricionais que atuam como fertilizantes e promovem o crescimento de bactérias saudáveis no intestino, como banana aveia, cacau, semente, alho e cebola.

A recomendação é que os probióticos não sejam consumidos sem indicação médica, por ser necessário avaliar a cepa. Eles devem ser prescritos de acordo com cada alteração, a partir da análise do exame do paciente, de forma personalizada. Apesar de existirem probióticos comuns de cepas mais conhecidas vendidos em farmácia, a médica pondera que o ideal é fazer uso de uma fórmula personalizada.

Como podemos ter um intestino saudável

Um intestino saudável representa bem-estar e saúde. Todos os nutrientes e hormônios são absorvidos pelo intestino. Por isso, não adianta suplementar ou tomar vitaminas se ele estiver ruim, porque, dessa forma, o organismo não terá o que precisa e você gastará dinheiro em vão.

A recomendação fundamental é melhorar a alimentação, ingerindo fibras adequadas, frutas, verdura, legumes, proteínas etc. “Quem come muito carboidrato geralmente não vai ao banheiro. Já notou que quem come apenas farinha, pão, macarrão tem mais dificuldade? De um lado, o carboidrato tem que ser reduzido; de outro, a quantidade de vegetais, verduras e legumes na dieta deve ser maior do que o habitual”, orienta a médica.

Sementes como linhaça, girassol e o psyllium – que é uma fibra natural retirada da casca da semente da erva Plantago Ovata – têm inúmeros benefícios, especialmente para o funcionamento do intestino.

Em alguns casos, são necessários probióticos. Hoje já existem milhares deles, com cepas que variam de acordo com o tipo de problema enfrentado pelo paciente: obstipados, alérgicos, obesos, diabéticos, hipertensos e até para ansiedade. “Temos que avaliar o que o paciente precisa para fazer o mix de probióticos de que ele necessita”, observa.

Outra recomendação é a prática de exercícios físicos. “A atividade física mexe com a musculatura que passa atrás do intestino, estimulando a peristalse, movimento que empurra as fezes para frente”, exemplifica a especialista.

Por fim e não menos importante, deve-se aumentar a quantidade de água ingerida ao longo do dia. “São recomendados de dois a três litros por dia. Sem isso, é impossível ter um intestino que funcione bem”, finaliza Mariana.

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