Perigos escondidos por trás dos alimentos embutidos

Entenda por que os alimentos embutidos e ultraprocessados devem ser cortados da sua alimentação.
Perigos escondidos por trás dos alimentos embutidos saúderia
Perigos escondidos por trás dos alimentos embutidos saúderia

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica as carnes processadas como cancerígenas. Segundo a OMS, o consumo de salsicha, linguiça, bacon e presunto aumenta o risco de câncer do intestino, por exemplo.

De acordo com Erika Simone Coelho, nutricionista e presidente do Conselho Regional de Nutricionistas de Minas Gerais, o elevado teor de sal da carne processada pode resultar em danos ao revestimento da mucosa do estômago, levando à inflamação, à atrofia das células e à colonização da bactéria Helicobacter pylori, favorecendo o surgimento de câncer de estômago.

Para José Ernesto dos Santos, médico nutrólogo e secretário-geral da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), existem evidências demonstradas por vários órgãos internacionais, inclusive pela OMS, de que o consumo regular e em grande quantidade de carnes processadas, além das carnes defumadas, se associa ao maior risco de câncer. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) recomenda, inclusive, não consumir esse tipo de carne em nenhuma quantidade.

Segundo o médico nutrólogo, o risco de surgimento do câncer ocorre, entre outros fatores, porque, no processamento, a carne sofre uma série de alterações, por salgamento, fermentação, defumação e vários outros produtos que a indústria usa para realçar o sabor. “Não estamos falando da ingestão eventual, mas da ingestão constante”, pondera José Ernesto.

Outro aspecto importante são os riscos do consumo de nitrito, um potente bactericida adicionado em grande parte às carnes processadas para aumentar sua validade. “No organismo humano, os nitritos provocam danos gravíssimos”, alerta o médico.

Erika Coelho explica que o cozimento de carnes a temperaturas elevadas resulta na formação de aminas heterocíclicas e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, que têm potencial de causar mutação em nosso material genético, aumentando o risco de desenvolvimento de tumor no intestino, o chamado câncer colorretal.

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Alimentos ou produtos alimentícios: qual a melhor opção?

Alimentos in natura são aqueles tal como estão na natureza: sem conservantes, sem aditivos e sem nenhum produto que os modifiquem ou interfiram na sua validade. São os legumes, as frutas, as verduras, as carnes, os frangos, os peixes.

De acordo com Erika, os produtos alimentícios ou alimentos processados ou ultraprocessados, como o próprio nome diz, são aqueles feitos pela indústria e envolve diversas etapas e técnicas de processamento e muitos ingredientes, incluindo sal, açúcar, óleos, gorduras e, principalmente, substâncias de uso exclusivamente industrial.

Uma dica para saber se o alimento é ultraprocessado é ler o rótulo. “Nos ingredientes dos ultraprocessados, identificamos substâncias de uso exclusivamente industrial, que não possuímos na nossa cozinha para o preparo de refeições”, informa a nutricionista. São todos aqueles nomes esquisitos que a gente não consegue saber o que significa.

O Guia Alimentar para a População Brasileira é um documento oficial do Ministério da Saúde que apresenta as diretrizes alimentares oficiais para a nossa população. Entre as recomendações está evitar alimentos embutidos e ultraprocessados, como salame, presunto, bacon, linguiça, mortadela, e os biscoitos recheados, salgadinhos “de pacote”, refrigerantes e macarrão instantâneo.

Segundo a nutricionista, o grande consumo de alimentos processados e ultraprocessados piora a qualidade da alimentação e aumenta a ingestão de sal, gordura e açúcar, além de elevar o peso médio da população. “Ao escolher esse tipo de alimento, com certeza o indivíduo estará deixando de consumir um alimento de melhor qualidade nutricional, in natura ou minimamente processado”, alerta Erika.

O médico José Ernesto também destaca o aparecimento de outras doenças decorrentes do consumo de alimentos ultraprocessados, como a obesidade. “Não podemos nos esquecer de que uma alimentação inadequada pode levar ao ganho de peso, e a obesidade também se relaciona com o câncer. Os indivíduos obesos têm uma maior prevalência da doença”, destaca o médico.

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Consumo excessivo de carne vermelha é fator de risco para câncer

De acordo com relatório feito pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc, na sigla em inglês), da OMS, além da carne processada, as carnes vermelhas, de um modo geral, são fatores de risco provável para o desenvolvimento de câncer.

Segundo a nutricionista Erika, a ingestão em excesso de ferro heme, presente na carne vermelha – boi, porco, cordeiro etc. – tem sido associada ao risco aumentado de câncer colorretal, sugerindo danos ao nosso material genético.

Ainda sobre a relação da carne vermelha com o câncer, José Ernesto destaca a chamada “carne verde”, proveniente do boi que vive no pasto. Segundo o médico, é necessário pressionar os órgãos governamentais para que haja maior controle sobre a venda e a utilização de herbicidas, fungicidas ou defensivos agrícolas utilizados na lavoura com efeitos cancerígenos, como o glifosato – o agrotóxico mais vendido do mundo. Afinal, o boi alimenta-se desse vegetal.

“O boi que come o pasto com glifosato, por exemplo, também está ingerindo glifosato, e consequentemente, nós também vamos ingerir o veneno. Precisamos lutar para que os órgãos responsáveis fiscalizem e para que o agricultor saiba usar adequadamente esses defensivos agrícolas”, defende.

Quantidade ideal de consumo de carne vermelha

A nutricionista Erika recomenda que o consumo de carne vermelha não seja superior a 500 gramas por semana. O ideal, segundo ela, é aumentar o consumo de carne branca – aves e peixes – em substituição à vermelha.

De acordo com José Ernesto, o INCA recomenda limitar o consumo de carne vermelha a 400 gramas por semana. “Com a crise econômica, esse consumo caiu, mas antes da pandemia a ingestão média de carne vermelha nas churrascarias e rodízios do Brasil, tendo como base Ribeirão Preto, onde investiguei, era em torno de 750 gramas per capita homem e 450 per capita mulher”, descreve o médico nutrólogo. Em uma única refeição, comia-se muito mais carne vermelha do que é recomendado consumir em uma semana.

Alimentação para prevenir o câncer

Para prevenir o câncer, além de evitar o consumo de carne processada, pois não há consumo mínimo seguro, e de limitar a ingestão de carne vermelha, a recomendação nutricional é:

  • alimentação rica em vegetais, como legumes, verduras e frutas;
  • dieta que forneça, pelo menos, 30 gramas de fibra de fontes dietéticas por dia;
  • incluir, na maioria das refeições, alimentos contendo cereais integrais, vegetais ricos em amido – como batatas, batata doce, mandioca, inhame, cará – consumidos com moderação;
  • comer leguminosas, como feijão e lentilhas.

De acordo com a nutricionista, é importante limitar o consumo de alimentos processados ricos em gordura, amidos ou açúcares, incluindo fast food, refeições prontas para aquecer e consumir, aperitivos, produtos de confeitaria e doces, além de bebidas com adição de açúcar. “Para hidratar-se, prefira sempre água!”, indica.

É de extrema importância manter um peso saudável, pois o excesso de tecido adiposo (gorduroso) está associado ao maior risco de desenvolver câncer. “Mantenha-se ativo fisicamente, pois a prática de exercício físico associada à uma alimentação saudável são fatores de proteção contra o câncer”, reforça Erika. Segundo ela, o consumo de bebida alcoólica está associado a vários tipos de câncer, não possuindo consumo mínimo seguro.

Alimentação rica em alimentos in natura e bem colorida

Para o médico nutrólogo, uma dieta prudente deve incluir hortaliças, legumes e alimentos fonte de energia, como feijão, lentilha e grão de bico, além de uma fonte de proteína, como carne, frango, peixe ou ovo. Para a sobremesa, opte o mais frequentemente por frutas. Com essas dicas, você irá ingerir proteína, vitaminas, minerais e fibras em quantidades suficientes para a manutenção da sua saúde.

“Recomenda-se que a refeição seja um processo consciente e não automático, que a pessoa identifique com calma quando ela está com fome e quando se saciou”, atenta José Ernesto. O médico cita uma corrente atual em Nutrição chamada mindful eating, que preconiza o ato de comer com atenção plena. A proposta é se alimentar prestando atenção ao alimento e ao ato de comer, “e não respondendo ao celular, vendo televisão e conversando assuntos estressantes na hora da refeição”, alerta.

A alimentação tem relação direta com a saúde. Para tanto, lembre-se de variar sempre as cores e os sabores, e sempre que necessário, procure um profissional nutricionista para uma avaliação. “Aproveite para se alimentar melhor, aprimorando as práticas culinárias. Cada um de nós traz consigo as memórias afetivas da nutrição”, finaliza Erika.

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