Ao avaliarmos um alimento e/ou medicamento, é preciso se perguntar se os benefícios superam os males que podem provocar. Para a infelicidade de muitos, neste artigo você vai entender que beber vinho diariamente não é uma atividade tão saudável quanto se sugere.
De acordo com o nutrólogo Thales Diniz, o risco está no fato de que não existe uma quantidade de álcool que possa ser ingerida com segurança. “Isso porque quanto mais se bebe, pior é para o organismo, pois o álcool é neurotóxico, ou seja, faz mal para os neurônios e causa a degradação de quase tudo”, aponta o médico.
Segundo Thales, o grande responsável pelo mito de que tomar uma taça de vinho diariamente faz bem é o resveratrol – molécula encontrada principalmente na casca da uva, que tem propriedades de diminuir a pressão arterial, aumentar os níveis de colesterol bom, rejuvenescer as artérias e manter as quantidades adequadas de açúcar no sangue.
Desse modo, o resveratrol é de fato um protetor cardiovascular. Porém, a recomendação médica é ingeri-lo comendo a uva ou de forma exógena, isto é, por meio de cápsulas com o resveratrol concentrado.
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O protetor cardiovascular resveratrol
A médica nutróloga e professora de Nutrologia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Isolda Prado, explica que o resveratrolé um composto fenólico encontrado não apenas na uva, mas em alimentos como amendoim, frutas vermelhas, hibisco e chocolate com alto teor de cacau. Além disso, apresenta bioatividades anti-inflamatórias, cardioprotetoras, neuroprotetora, antioxidantes, entre outras.
“Estudos clínicos e experimentais demonstraram que os polifenóis promovem a saúde cardiovascular e podem reparar vários tipos de lesões renais em células específicas”, afirma. A nutróloga descreve como exemplo lesões provocadas por drogas, sequela crônica do diabetes e lesões secundárias provocadas por quadros infecciosos sistêmicos – as sepsis.
Sendo assim, o resveratrol é comprovadamente muito benéfico para a saúde, e o vinho é uma das fontes de resveratrol e outros polifenóis. Porém, a ingestão alcoólica não deve ser estimulada, principalmente, segundo a nutróloga, em quem apresenta problemas de saúde crônicos, como hipertensão, diabetes e aumento dos triglicerídeos, além de poder provocar lesões no fígado.
Elaboração do vinho: como acontece a fermentação da uva?
Quando o vinho é produzido, a fruta é processada e sua fibra é quebrada, ou seja, ingerimos apenas a frutose. Thales destaca que o nosso fígado não gosta de frutose, que é o açúcar mais rapidamente absorvido pelo corpo. Então, o que teria de positivo no vinho? O resveratrol.
De acordo com o médico Victor Sorrentino, embora existam algumas particularidades vantajosas no processo de fabricação do vinho pelos micronutrientes presentes, como o resveratrol e outros polifenóis, o álcool é tóxico para o organismo. “Somado a isso, ainda temos a problemática da adição de alguns elementos para a conservação do líquido”, pontua.
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Obtenha resveratrol pela ingestão da uva
Existem inúmeros benefícios na ingestão da uva, principalmente da casca e semente. Na uva, temos todos os benefícios que estão presentes no vinho, mas com o diferencial de não haver o potencial negativo do álcool. De acordo com Thales, consumindo 10g de uva preta você vai ingerir a dose recomendada de resveratrol, com a vantagem de não estar consumindo álcool.
Segundo Isolda Prado, análises mostram que os sucos de uva comerciais concentrados e não orgânicos vendidos no Brasil têm em média 1,01 mg/L de resveratrol, enquanto os orgânicos apresentam média de 2,83 mg/L.
Já o vinho tinto, pelo processo de fermentação da fruta, produção do etanol e contato com as cascas vermelhas ou pretas, apresenta alto teor de resveratrol: 0,27 mg/100mL. Em vinhos rosé e branco, a concentração de resveratrol é menor: 0,12 mg/100 mL e 0,04 mg/100mL, respectivamente.
Não existe uma dose padrão de resveratrol por dia, mas a inclusão dos alimentos ricos pode aumentar sua concentração e seus efeitos. Caso a pessoa utilize as cápsulas com o resveratrol concentrados, deve ser orientada por médico ou nutricionista para não ocorrerem efeitos adversos.
Dose de vinho apropriada
De acordo com Isolda, se o indivíduo já apresenta o hábito do consumo de vinho, costuma-se recomendar, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), que homens não ultrapassem 30g de etanol diários – o que corresponde a até três copos de chope, uma dose de whisky e de duas a três taças de vinho; e que mulheres não devem ultrapassar a metade desse valor (15g/dia).
Porém, o consumo de qualquer alimento ou bebida, por mais benéfico que possa ser para a saúde humana, sempre deve ser feito com cautela. A ingestão excessiva de nutrientes e calorias podem ser prejudiciais para a saúde, assim como a ingestão insuficiente.
Uma taça de vinho por dia é má ideia?
Para Victor Sorrentino, a ingestão diária de vinho como benefício para a saúde é um mito, um paradigma que precisa ser quebrado. Isso não impede que a pessoa deguste seu vinho em um dia ou em outro ou nos fins de semana. No entanto, se você não tem o hábito de ingerir uma taça de vinho todos os dias, a recomendação é continuar agindo assim.
“Ah, os italianos bebem e não morrem por isso, costumam dizer”, ilustra o médico com a fala popular. “É importante entender que o italiano de hoje tem uma saúde completamente diferente do italiano que vivia antigamente, assim como o vinho, que antes era produzido por outro processo, mais natural e artesanal, além de os alimentos também serem diferentes hoje em dia”, comenta.
Em seus conteúdos, Sorrentino também cita estudos que demostraram que apenas uma taça de vinho por dia poderia aumentar o risco de câncer de mama em mulheres. E alerta para o perigo de se conciliar o uso de anticoncepcionais com o consumo diário de álcool, hábito cujo resultado pode ser o acúmulo de toxinas no organismo, sobrecarregando o fígado, órgão responsável por desintoxicar naturalmente o corpo.
Álcool não é nutriente, mas é possível ingeri-lo com consciência em situações especiais. O que não podemos é criar uma ideia equivocada de que beber vinho todos os dias é saudável.
