A soja é um grão rico em proteínas e, por isso, sempre foi conhecida como uma alternativa alimentar à carne em dietas vegetarianas. Essa leguminosa é consumida há muito tempo por alguns povos orientais em sua alimentação diária e, recentemente, se tornou mais conhecida no Brasil.
Com as pesquisas ao longo dos anos, características positivas da soja foram sendo identificadas, como o alívio dos sintomas da menopausa, redução de doenças do coração e proteção contra alguns tipos de cânceres. No entanto, há especialistas que alertam para os riscos do consumo desse alimento, que pode causar problemas se for ingerido em grandes quantidades.
Apresentando diferentes argumentos e pesquisas, vamos falar sobre os prós e contras, explicando os possíveis benefícios e malefícios desse alimento para a sua saúde.
Riscos do consumo regular
Para Lair Ribeiro, médico cardiologista, a soja não deve ser consumida com frequência. “Ela contém ácido fítico (fitato), que causa deficiência de Cálcio, Magnésio, Ferro, Cromo e Zinco. Também inibe a digestão de proteínas, o que gera problemas no pâncreas, além de inibir a transformação de T4 e T3, causando hipotireoidismo a longo prazo”.
Lair explica que esse alimento aumenta as necessidades de vitamina B12 e vitamina D, dificultando ainda mais a absorção desses nutrientes. Por fim, ele faz um alerta para mais um ponto de atenção. “É um veneno para meninos em fase de pré-puberdade, porque ela contém fitoestrógenos capazes de provocar atrasos no desenvolvimento masculino e o aparecimento de características femininas no corpo”, completa.
Gabriel Azzini, médico ortopedista, explica que a soja possui altos níveis de Alumínio e Manganês, dois componentes potencialmente tóxicos para o organismo se forem consumidos em excesso.
Consumo durante a menopausa
Para algumas mulheres em pré-menopausa e menopausa, que não se adaptam à terapia de reposição hormonal, as isoflavonas da soja, que têm atividade estrogênica, podem ser uma alternativa para o controle e alívio dos sintomas desagradáveis desse período.
De acordo com Carla Holz, nutricionista especialista em Saúde da Mulher, alterações de libido e de humor, fogachos, sudorese noturna, incontinência urinária, secura vaginal e insônia são os sintomas que costumam afetar entre 60% e 80% do público feminino nessa fase, conhecida como climatério. O início, a duração e a intensidade variam entre as mulheres, mas as queixas são muito semelhantes e afetam diretamente a qualidade de vida.
Segundo a especialista, embora a terapia de reposição hormonal seja o tratamento mais eficaz, muitas mulheres optam por não realizar ou interrompem após o primeiro ano por temerem os riscos de câncer. Além disso, a reposição hormonal é contraindicada quando há histórico de trombose, distúrbio de coagulação, embolia pulmonar, câncer de mama e endométrio ou insuficiência hepática.
Uma opção para amenizar os desconfortos são os tratamentos alternativos. Entre as alternativas, encontra-se a soja. “As isoflavonas são os fitoestrogênios que mais possuem ação estrogênica, ou seja, que imitam o hormônio natural da mulher, e as isoflavonas presentes na soja podem auxiliar na redução dos sintomas do climatério, principalmente nos episódios de fogachos”, reforça Carla.
Soja e as doenças do coração
As doenças cardiovasculares são a principal causa de mortes no Brasil, segundo informações da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2019). Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, por ano, cerca de 300 mil pessoas têm infarto agudo do miocárdio no País. Em 30% dos casos, os pacientes morrem. Por isso, é uma realidade preocupante.
Segundo Júnia Dueli Boroni, ginecologista endócrina, os componentes da soja, notadamente as isoflavonas, aumentam a produção do óxido nítrico, que é um agente vasodilatador, ou seja, responsável por expandir os vasos e facilitar a circulação do sangue. Além disso, reduzem os níveis de LDL – o colesterol ruim –, o tamanho das placas ateroscleróticas e a pressão arterial, evitando doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio, aterosclerose e tromboses.
Soja diminui ou aumenta o risco de câncer?
Conforme explica a médica oncologista Alessandra Morelle, estudos feitos pelo Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos revelaram que alimentos à base de soja integral auxiliam na prevenção de alguns tipos de câncer.
Contudo, a doutora ressalta que “a eficácia da soja na prevenção e no tratamento do câncer irá depender do tipo e local onde ele se manifesta, do agente causal e da fase de desenvolvimento da doença. Dessa forma, é possível que ocorram variações quanto a eficácia da resposta ao tratamento alimentar”.
A nutricionista Andréa Esquivel faz uma importante ressalva, pois a soja é associada à redução de câncer de mama nas mulheres, mas, por outro lado, ela pode estimular demais a próstata, favorecendo o aparecimento de tumores nos homens – é o que revela um trabalho publicado no International Journal of Cancer.
Melhor maneira de consumir
O médico Lair Ribeiro elucida que, no Japão, o consumo de soja é feito com base em alimentos fermentados, o que reduz seus malefícios, mas ainda assim, este consumo exerce impacto no corpo das pessoas.
De acordo com a nutricionista Carla, os produtos à base de soja que apresentam melhor biodisponibilidade de fitoestrogênios são o tofu e o missoshiro, este último feito à base da pasta de soja, o missô. “A soja fermentada, como tofu e missô, é mais saudável. São probióticos que trazem benefícios à flora intestinal e outras vantagens, como fortalecimento dos ossos e facilidade na digestão de proteínas”, explica Carla.
No entanto, além do grão, tofu e missô, esse alimento pode ser consumido de várias outras maneiras:
- Extrato de soja, o “leite de soja”;
- Óleo de soja;
- Molho de soja, shoyu;
- Lecitina de soja;
- Proteína texturizada de soja, mais conhecida como “carne de soja”;
- Farinha de soja.
Para obter isoflavona com o objetivo de reduzir as ondas de calor e melhorar sua qualidade de vida durante a menopausa, a recomendação da nutricionista Carla é consumir 50mg de isoflavona por dia, o que corresponde a 240ml leite de soja ou 3 colheres de sopa de grão cozido ou ½ xícara de chá de proteína texturizada de soja, a chamada carne de soja, ou 2 fatias de queijo tofu.