Na fibromialgia, o sintoma mais importante é a dor difusa pelo corpo. As pessoas que têm a doença sentem muitas dores por toda a estrutura física. Não existe exame que comprove a presença da fibromialgia. Os exames feitos são para excluir outras causas. O diagnóstico é clínico, e o médico o faz por diferenciação com outros problemas de saúde.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), os estudos mais recentes mostram que os pacientes com fibromialgia apresentam uma sensibilidade maior à dor do que pessoas sem fibromialgia. Na prática, seria como se o cérebro delas estivesse com um “termostato” ou um “botão de volume” desregulado, que ativasse todo o sistema nervoso para fazê-las sentir mais dor.
O motivo pelo qual algumas pessoas desenvolvem fibromialgia ainda é desconhecido. O que não se discute mais é se a dor é real ou não. Hoje, com técnicas de pesquisa que permitem ver o cérebro em funcionamento em tempo real, descobriu-se que pacientes com fibromialgia realmente estão sentindo a dor que apontam.
Fibromialgia é doença, não frescura
A médica reumatologista com título de especialista pela SBR, Luiza Uchôa de Resende Sousa, explica que a fibromialgia é uma patologia não inflamatória que ocorre com dor musculoesquelética crônica e que pode se manifestar também com sintomas em outros órgãos.
O diagnóstico da fibromialgia é clínico. O médico levanta o histórico de todos os sintomas narrados pelo paciente sobre determinado caso clínico e faz exame físico. De acordo com Luiza, os exames complementares são realizados para afastar outros diagnósticos, “como, por exemplo, doenças reumáticas imunomediadas – como a artrite reumatoide, a espondiloartrite, o lupus eritematoso sistêmico e a Síndrome de Sjögren”, enumera.
Os exames também servem para descartar doenças endocrinológicas, neoplásicas, infecciosas, tendinites, peritendinites e bursites”, cita a médica. No entanto, em alguns casos, problemas reumáticos também podem estar presentes num quadro de fibromialgia e reconhecê-los é importante para melhorar a qualidade do tratamento.
Ao realizar uma boa entrevista clínica, o médico é capaz de fazer o diagnóstico de fibromialgia na primeira consulta e descartar outras doenças. Os critérios de diagnóstico são, basicamente, dois:
a) dor por mais de três meses em todo o corpo;
b) presença de 11 pontos dolorosos na musculatura de um total de 18 pontos preestabelecidos pela literatura médica.
Sinais e sintomas de fibromialgia
De acordo com a reumatologista, para ser diagnosticado como fibromialgia, o paciente deve apresentar sintomas por mais de três meses, os quais podem variar de intensidade. Percebendo alguns dos sintomas descritos a seguir, o médico deve ser consultado:
- Dores no corpo de forma difusa, ou seja, uma dor que se “espalha” por todo o corpo;
- Dores articulares;
- Sensação de inchaço no corpo;
- Câimbras;
- Formigamento;
- Sensação de fisgadas, às vezes ao mínimo toque;
- Rigidez articular;
- Fadiga;
- Distúrbio do sono e humor;
- Dor de cabeça;
- Perda de memória;
- Sintomas compatíveis com a Síndrome do Intestino Irritável;
- Vertigens.
A SBR destaca que a alteração do sono na fibromialgia afeta quase 95% dos pacientes. Segundo a instituição, no início da década de 1980, descobriu-se que pacientes com fibromialgia apresentavam um defeito típico no sono: uma dificuldade de manter um sono profundo.
Nas pessoas com fibromialgia, o sono tende a ser superficial e/ou interrompido. Com isso, a qualidade de sono cai muito, e a pessoa acorda cansada, mesmo que tenha dormido por um longo tempo. “Acordo mais cansada do que deitei” e “Parece que um caminhão passou sobre mim” são frases frequentemente usadas por quem tem fibromialgia. Essa má qualidade do sono aumenta a fadiga, a contração muscular e, consequentemente, a dor. A fadiga vai além do cansaço causado apenas por um sono não reparador.
De acordo com a SBR, pacientes com fibromialgia apresentam baixa tolerância ao exercício físico, o que é um grande problema, já que a atividade física é um dos grandes aliados no tratamento da doença.
O último sintoma destacado pela SBR é a depressão, presente em 50% dos pacientes com fibromialgia. Isso não quer dizer que todo paciente com fibromialgia tem depressão, mas que a depressão é um sintoma muito comum entre eles. Durante muito tempo, pensou-se que a fibromialgia era uma “depressão mascarada”. Hoje é sabido que a dor da fibromialgia é real e não se deve pensar que o paciente está “somatizando”, isto é, manifestando um problema psicológico por meio da dor.
Causas da fibromialgia
Segundo Luiza, não há uma causa bem-definida para a doença, mas acredita-se que ocorra uma alteração na percepção de dor pelo cérebro dos pacientes. Estudos indicam que os neurotransmissores que auxiliam no controle da dor são reduzidos se comparados com a quantidade de neurotransmissores que amplifica a dor. “Em pessoas com predisposição genética, as dores podem ser desencadeadas após algum gatilho, como estresse, quadro infeccioso, trauma físico, desregulação hormonal”, acrescenta a especialista.
Em seu canal de vídeos no YouTube, a farmacêutica pós-graduada em Nutrição e Terapeuta Naturalista Angela Xavier aponta alguns elementos causadores de inflamações que podem agravar os sintomas da fibromialgia:
- Leite e derivados;
- Trigo, não apenas pelo glúten, mas pela falta de nutrição existente no cereal;
- Açúcar, que, por ser estimulante e “ladrão” de nutrientes, agrava o estado emocional da pessoa com relação à dor;
- Café e produtos cafeinados, como chás, pelo mesmo motivo do açúcar;
- Excesso de proteína animal e gordura, pois a proteína libera elementos tóxicos, como o ácido úrico, que tende a se acumular nas juntas, causando também inflamação, edema, inchaço e dor;
- Obesidade;
- Álcool, que libera ácido úrico, impede a absorção de nutrientes e aumenta o colesterol nas artérias, causando inflamações.
Atenção: se há dor, há inflamação; e se há inflamação, há um agente causador. A pessoa pode ter excesso de toxinas ou falta de nutrientes, ou ainda os dois cenários ao mesmo tempo.
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Fibromialgia tem cura? Conheça o tratamento
O tratamento da fibromialgia inclui mudança de hábitos e, em alguns casos, medicamentos. O objetivo é melhorar a qualidade de vida dos pacientes, uma vez que a doença não deixa sequelas articulares. “Como pilar do tratamento sem medicação está a atividade física regular, principalmente aeróbica. A terapia cognitivo comportamental também auxilia no tratamento, de preferência em conjunto com exercícios físicos. Fisioterapia, acupuntura e massagens também podem ter algum benefício”, assinala Luiza.
Já o tratamento medicamentoso, quando indicado, pode incluir antidepressivos, anticonvulsivantes, analgésicos de potência variada e relaxantes musculares. A especialista destaca que a prescrição do tratamento deve ser individualizada pelo médico. “Em pacientes com fibromialgia, manter hábitos de vida saudáveis auxilia a amenizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida ou até mesmo manter a doença controlada, sem crises intensas e por um período mais longo”, sugere.
As recomendações seriam para todas as pessoas, com ou sem fibromialgia: buscar, sempre que possível, manter hábitos saudáveis de vida, como a prática de atividade física regular, ter uma qualidade de sono adequada, cuidar da mente e da alimentação. Em caso de sintomas que sugerem um quadro de fibromialgia, a orientação é procurar um especialista para avaliar.
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Dá para prevenir?
A prevenção pode estar na alimentação e na reposição dos nutrientes que faltam. Em um organismo inflamado, costuma haver deficiência de magnésio, zinco, selênio e potássio – minerais muito importantes, cuja falta irá agravar o estado de dor. “As vitaminas antioxidantes, como vitamina A, C, E e as vitaminas do complexo B ajudam muito na parte estrutural do corpo – óssea, muscular e do sistema nervoso”, afirma Angela. Outros especialistas têm destacado o glúten e a lactose como prejudiciais para quem tem fibromialgia.
Portanto, é muito importante ter uma alimentação que supra todas essas necessidades. Melhore sua alimentação para que o seu corpo te ajude a se libertar das dores. No caso de alguma deficiência, para uma melhora mais rápida, a suplementação alimentar pode ser uma opção.
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A seguir, dicas finais da Saúderia para evitar e controlar a fibromialgia:
- Evite café antes de dormir e exercícios físico à noite, tire a TV do quarto e apague as luzes para uma melhor qualidade do sono;
- Suspenda o glúten e a lactose e suplemente vitaminas do complexo B e vitamina D3 – um excelente anti-inflamatório e antioxidante;
- Mude seu estilo de vida, sua alimentação e cuide das emoções;
- Exercício físico é um dos melhores remédios para a fibromialgia.
O médico Dayan Siebra costuma dizer que “o melhor tratamento para a fibromialgia consiste em três ações: controle das emoções, suplementação de melatonina, que é o hormônio do sono, e prática de exercícios físicos”. Concordarmos com ele.