De acordo com o Ministério da Saúde, por ano, cerca de 300 mil indivíduos sofrem infarto agudo do miocárdio no Brasil. Em 30% dos casos, os pacientes morrem. A mortalidade causada pelas doenças do coração vem diminuindo ao longo dos anos, mas ainda é uma ameaça que precisa de atenção.
Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2019), 5,3% de pessoas com 18 anos ou mais de idade tiveram algum diagnóstico médico de alguma doença do coração, o que corresponde a 8,4 milhões de pessoas.
O que são doenças do coração?
O professor do Departamento de Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), Luiz Aparecido Bortolotto, aponta as principais doenças do coração:
- Insuficiência cardíaca: quando a força do coração fica insuficiente para mandar sangue para os outros órgãos;
- Doença coronária: quando ocorre obstrução na passagem de sangue da artéria que irriga o músculo do coração, podendo ocasionar o infarto do miocárdio, por exemplo.
Segundo o cardiologista, outras doenças que podem ocorrer são as arritmias, alterações no batimento cardíaco ou nas válvulas cardíacas que controlam a passagem de sangue dentro do coração e do coração para os vasos sanguíneos.
Entre os fatores de risco estão o tabagismo, o consumo abusivo de álcool, a falta de atividade física e consumo de alimentos com alto teor de gordura e densidade energética. Além disso, as doenças do coração também são influenciadas por fatores genéticos.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), a prática regular de atividade física, a alimentação saudável e a redução do estresse, associadas ao controle do colesterol e da pressão arterial, tendem a reduzir em 80% o número de mortes.
Hipertensão é importante fator de risco
De acordo com Luiz Bortolotto, a hipertensão arterial, conhecida popularmente como pressão alta, se não tratada ou controlada, pode causar sobrecarga ao coração, levando à insuficiência cardíaca. A orientação é aferir a pressão arterial de forma regular na farmácia mais próxima da sua casa para evitar complicações.
Segundo o especialista, a hipertensão pode facilitar o acúmulo de placas nas artérias coronárias e, dessa forma, levar à obstrução do fluxo e ao infarto. Além disso, por exigir mais do coração, pode provocar arritmias cardíacas, principalmente em idosos.
A maioria dos pacientes hipertensos precisa de medicamentos para controlar a pressão arterial, incluindo diuréticos e vasodilatadores. Além do controle da pressão, é preciso controlar também a diabetes e o colesterol alto.
Tratamentos mais utilizados contra as doenças do coração
De acordo com Luiz Bortolotto, dependendo do tipo de doença cardíaca, os cuidados podem variar. No entanto, em todas elas, é necessário acompanhamento regular com especialista e uso correto do medicamento, seguindo sempre as orientações médicas.
Para a insuficiência cardíaca, além dos hábitos saudáveis de vida, existem medicamentos que aumentam a força do coração e outras que diminuem a sobrecarga. “Nos casos mais graves, pode ser indicado um marca-passo – pequeno dispositivo implantado sob a pele, geralmente abaixo da clavícula no lado esquerdo ou direito do peito – ou até mesmo o transplante”, explica o especialista.
Para a doença coronária utiliza-se medicamentos que ajudam a desobstruir os vasos, como as estatinas que controlam o colesterol e, em alguns casos, o ácido acetil salicílico. “Dependendo do caso, pode ser necessária uma cirurgia, popularmente conhecida como ponte de safena; ou um procedimento chamado angioplastia com stent, ou seja, a colocação de um balão que dilata a artéria juntamente com uma espécie de mola que impede a artéria de obstruir”, detalha o médico.
Para as arritmias, o cardiologista explica que o tratamento pode incluir medicamentos para controlar o ritmo do coração e, em alguns casos, o uso de anticoagulantes para impedir a formação de coágulos nas artérias.
Pessoas com problemas cardíacos podem sim ter uma boa qualidade de vida. “No entanto, é importante que cada um conheça seus limites. As atividades físicas, por exemplo, são liberadas desde que estejam de acordo com as recomendações médicas”, pondera o cardiologista.
Prevenção ainda é o melhor remédio
O Ministério da Saúde ressalta que até hoje a prevenção continua sendo a forma mais eficaz de reverter o cenário das doenças cardiovasculares. A indicação é ir ao cardiologista e seguir suas orientações:
- Abandonar o tabagismo, o sedentarismo e praticar atividade física, conforme orientação médica;
- Fazer 30 minutos de caminhada, pelo menos, três vezes por semana;
- Manter uma alimentação saudável, sem gorduras ou frituras, dando preferência às carnes brancas;
- Acrescentar vegetais, folhas e legumes nas refeições;
- Trocar a sobremesa calórica por uma fruta;
- Evitar o consumo excessivo de açúcar, massas, pães e alimentos industrializados;
- Reduzir o consumo de bebidas alcoólicas.
Muitas vezes, as doenças do coração chegam lentamente e sem dar sinais. No entanto, suas consequências podem ser graves e inesperadas. Por isso, o check-up também é considerado uma medida de prevenção. Trata-se de avaliação médica de rotina associada a exames específicos de acordo com idade, sexo e históricos pessoal e familiar.
Atuação do farmacêutico na saúde do coração
A demanda por profissionais especializados no cuidado do coração é crescente, e o farmacêutico é um deles. Raphael Araújo, farmacêutico da Saúderia Tudo Mais, destaca que, além das orientações para prevenir e controlar as doenças do coração, a farmácia ainda pode realizar os seguintes serviços:
- Aferição da pressão arterial;
- Exame de colesterol total e parcial;
- Exame de bioimpedância, que avalia a composição corporal;
- Avaliação antropométrica, que avalia a circunferência abdominal.
Raphael explica que quanto maior a porcentagem de gordura no corpo maior é o risco de a pessoa desenvolver doenças cardiovasculares. “O aumento da circunferência abdominal tem total relação com o surgimento das doenças do coração. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), nos homens, a circunferência abdominal não pode passar de 102 cm, e nas mulheres o limite é de 88 cm”, alerta o farmacêutico.
Além das orientações citadas para prevenir as doenças do coração, como alimentação saudável, atividade física diária, sono adequado, baixa ingestão de sódio, não consumir bebidas alcoólicas, não fumar e fazer acompanhamento médico periódico, Raphael acrescenta o uso de nutracêuticos.
“Nutracêutico é um tipo de suplemento alimentar que contém em sua composição compostos bioativos que foram extraídos dos alimentos e que possuem benefícios para o organismo, podendo, inclusive, ser utilizado para complementar o tratamento de alguma doença”, explica. Nesse caso, seria indicado como estratégia para prevenção das doenças cardiovasculares, mas antes de qualquer atitude, procure um cardiologista. Nunca se automedique!