O ácido úrico é produzido, principalmente, pelo fígado a partir do metabolismo das purinas, que são compostos presentes em nosso organismo e em diversos alimentos, especialmente naqueles com alto teor de proteínas, como carnes, embutidos, miúdos e frutos do mar.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), 60% das purinas são fabricadas pelo próprio organismo e 40% provêm da alimentação. Isso significa que ter uma dieta equilibrada é a resposta para prevenir e tratar a doença.
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Causas: por que o ácido úrico aumenta?
O ácido úrico é uma substância que circula no sangue depois da digestão das proteínas. Em pessoas saudáveis, os níveis de referência são de 6mg/dL para mulheres e 7mg/dL para homens. Acima disso, passa a ser considerado elevado. Esse excesso, normalmente, é eliminado pelos rins por meio da urina.
De acordo com a reumatologista Luiza Uchôa de Resende Sousa, o ácido úrico alto pode ser ocasionado por dois principais fatores: alterações genéticas, que comprometem os rins em sua capacidade de eliminar o ácido úrico excedente; ou quando o fígado produz mais que o necessário.
Uma dieta desequilibrada, com excesso de proteínas, por exemplo, muita carne vermelha, aumenta o ácido úrico. Da mesma forma, a ingestão excessiva de bebida alcoólica produz mais urato, detectado em exames de urina. O urato é um cristal característico que deixa o pH da urina mais ácido, dificultando a eliminação do ácido úrico.
Alimentos ricos em gorduras saturadas também provocam excesso de ácido úrico, elevando o risco de resistência à insulina e obesidade.
Sinais de ácido úrico alto
Entre os principais sinais estão as crises recorrentes de gota. De acordo com a reumatologista, o paciente com ácido úrico alto apresenta dor e inchaço nas articulações, principalmente joelhos, dedões dos pés e tornozelos, inclusive vermelhidão e dificuldade de movimentá-las.
“Se os níveis excedem os valores de referência, existe o risco de se formarem os cristais de monourato de sódio. Esses cristais costumam se depositar em certos locais do corpo, como articulações, tendões e tecido subcutâneo, desencadeando reações inflamatórias chamadas de Gota ou Artrite Gotosa”, explica Luiza.
Segundo ela, as crises são de curta duração e melhoram mesmo sem tratamento específico após alguns dias. Porém, com o passar do tempo, elas vão ficando cada vez mais frequentes e podem afetar mais de uma articulação ao mesmo tempo. Se não tratadas adequadamente, alguns pacientes evoluem para dor crônica em várias articulações e sequelas articulares definitivas.
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Consequências do ácido úrico elevado
Além das crises recorrentes de gota, com o passar do tempo, o ácido úrico acumulado nos tecidos subcutâneos também pode formar os chamados “tofos gotosos”, nódulos palpáveis que surgem em cotovelos, joelhos e orelhas, por exemplo, nem sempre doloridos.
O excesso de ácido úrico também está associado à Síndrome Metabólica, um grupo de condições que aumenta o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas, diabetes, hipertensão arterial, obesidade e dislipidemia. Esta última é uma doença que tem como característica a presença de níveis elevados de lipídios (gorduras) no sangue. Além disso, o excesso de ácido úrico pode desenvolver cálculos renais.
Tratamento e controle
De maneira geral, o tratamento consiste em prevenção e controle das crises. De acordo com Luiza, os cuidados com a gota devem ser iniciados logo no início da crise, a fim de se reduzir o tempo de inflamação, o uso de medicamentos potencialmente tóxicos e as sequelas articulares.
“O tratamento é feito com medicamentos anti-inflamatórios orais, intramusculares ou intra-articulares e compressa fria no local, respeitando a indicação e as contraindicações de cada paciente”. A especialista destaca ainda que o tratamento é individualizado e com orientação médica.
Já a prevenção envolve primariamente o acompanhamento dos níveis de ácido úrico no sangue com uso de medicamentos específicos e controle da síndrome metabólica, se for o caso, mas principalmente dieta balanceada e saudável, rica em frutas e verduras, associada à atividade física regular.
Alimentação: remédio e veneno
A alimentação pode desencadear crises de gota. Por isso, o consumo de bebidas alcoólicas, principalmente cerveja – rica em purina –, e alimentos de origem animal e com alto teor de frutose devem ser restringido com orientação médica. A frutose existente em produtos ultraprocessados pode aumentar o risco de associação entre ácido úrico e doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA).
Alguns alimentos ajudam no controle do problema. São eles:
- Vegetais frescos;
- Frutas frescas, como laranja e limão, importantes fontes de vitamina C, que atua na redução dos cristais no sangue e nas articulações;
- Café;
- Azeite de oliva;
- Cebola e alho.
Sabendo que as proteínas têm papel fundamental na produção de ácido úrico, é indiscutível que quem sofre com a doença deve diminuir a ingestão de carnes vermelhas, peixes e frutos do mar.
Também é indispensável evitar alimentos industrializados e dar preferência aos naturais. Por fim, vale reforçar a importância da ingestão de água, indispensável para o bom funcionamento dos rins, que têm papel fundamental na melhora da doença.