De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), diabetes é uma doença caracterizada pelo acúmulo de glicose no sangue, provocando a hiperglicemia. Os motivos são defeitos na secreção ou na ação do hormônio insulina, que é produzido no pâncreas. A função da insulina é promover a entrada da glicose para as células do organismo para que possa ser aproveitada para diversas atividades celulares.
Segundo dados da Federação Internacional de Diabetes (IDF), existem atualmente 250 milhões de pessoas com diabetes no mundo. No Brasil, esse número está entre 12 e 20 milhões, o que representa, aproximadamente, 9% da população. Na população idosa, esse índice sobe para 12%. Em geral, no mundo, a mortalidade da doença é de 9,5% com níveis ainda mais altos em países de média e baixa renda.
Principais tipos de diabetes: tipo 1 e 2
O endocrinologista e metabologista Adauto Versiani, membro da SBEM, explica a doença de maneira mais simples e objetiva: tudo o que você come “cai” no estômago, vira proteína, gordura e glicose. A proteína gera massa muscular e células de defesa; a gordura serve como reserva de energia; e a glicose é o “combustível”.
“Não adianta apenas ter combustível no tanque de um veículo. Esse combustível tem que chegar ao motor para o veículo funcionar. Da mesma forma, não adianta ter glicose na corrente sanguínea sem que ela entre nas células do corpo para gerar energia. E quem leva essa glicose é a insulina”, ilustra o médico endocrinologista.
De forma simples, podemos dizer que a insulina é uma chave que abre uma porta na célula para a glicose entrar e se transformar em energia. “Se eu engordo, minha célula engorda, a porta engorda e a chave não funciona. Logo, tenho que produzir duas, três ou quatro vezes mais chaves – insulinas – para se encaixarem nessa nova fechadura e manterem minha glicose normal. Isso é a chamada resistência à ação da insulina”, ilustra o médico.
Diabetes tipo 1 e tipo 2
Apesar de receber o nome de diabetes, o tipo 1 é provocado por uma doença autoimune em que o organismo da pessoa produz um anticorpo que tende a destruir o pâncreas, levando a uma deficiência absoluta de insulina. No tipo 1, as pessoas têm que usar insulina desde o começo do diagnóstico, geralmente são magras e não há influência genética. Geralmente, ocorre em crianças.
Já o diabetes do tipo 2 é ocasionado frequentemente pela resistência à ação da insulina, ou seja, as pessoas produzem a insulina, mas a insulina não trabalha de maneira adequada. Ocorre, principalmente, em pessoas acima dos 40 anos com excesso de peso, mostrando relação com a obesidade.
Ao contrário do tipo 1, a influência genética é grande. Se você tiver um parente com diabetes, as chances de você ter também são de 50%. Nesse caso, a doença pode ser controlada com medicamento e, em alguns casos, chega a ser necessário também complementar o tratamento com insulina.
Sintomas: como saber se você está diabético
De acordo com o médico endocrinologista, se, por um lado, você tem a glicose elevada no sangue e, de outro, pouca glicose dentro da célula – por deficiência absoluta ou relativa de insulina –, você terá uma sensação de falta de energia, cansaço e desânimo.
Quando a glicose está muito alta, o rim tenta ajudar a eliminá-la pela urina, por isso, muitas pessoas diabéticas se levantam várias vezes da cama à noite para urinar. Um sinal de alerta é encontrar formigas próximas, indicando que a urina pode estar com alto nível de açúcar (ou glicose). Outro sintoma é boca seca, provocada pela desidratação. Se você passa a urinar mais vezes, corre o risco de ficar desidratado.
“A célula vai querer não apenas energia, mas também líquido, porque ela está desidratada. O problema é ingerir líquidos mais açucarados, como sucos e refrigerantes. A ingestão desses líquidos vai fazer a glicose subir ainda mais, urinar mais, sentir mais cansaço e desidratação”, descreve o endocrinologista. Portanto, beba apenas água.
A glicose muita alta também pode causar visão embaçada e dificultar a cicatrização de feridas e o combate às infecções, principalmente quando a glicose está acima de 200.
Mortalidade e importância do acompanhamento médico
De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), em número global, as mortes provocadas pela doença ocorrem principalmente em função de problemas cardiovasculares – como infarto e derrame –, e o número de mortes é maior que o do câncer.
Em um levantamento do Ministério da Saúde, as mortes causadas por diabetes no Brasil passaram de 24, em 2006, para 28,7 a cada 100 mil habitantes, em 2010 – ano em que a doença foi diretamente responsável por 54 mil mortes no país. Nos últimos anos, o número de pessoas que morreram devido a complicações por diabetes subiu 38%.
O risco está na demora que se leva para fazer o diagnóstico. A doença começa de forma silenciosa, e o paciente demora para apresentar os primeiros sintomas, como beber muita água, urinar de forma excessiva, emagrecer e ficar com a boca seca.
“Metade das pessoas que tem diabetes não sabe que tem a doença. Por isso, é importante reforçar que anualmente se deva fazer um checkup, principalmente depois dos 40 anos de idade, para saber como está o nível de açúcar no sangue. A dosagem de glicemia de jejum oferece um parâmetro bastante importante em relação ao risco de esse indivíduo desenvolver diabetes”, alerta o especialista.
Tratamento e controle do diabetes: o que fazer
Segundo a SBD, o tratamento vai depender do tipo de diabetes do paciente. Em geral, para todos os tipos, a orientação é ter uma dieta saudável, balanceada, com várias pequenas refeições várias vezes ao dia, para nunca ter sobrecarga de glicose em um determinado horário. A atividade física também é essencial. O médico endocrinologista explica que com o exercício físico o músculo consegue captar glicose sem precisar da insulina.
“Se for diabetes do tipo 1, em que ocorre falta absoluta de insulina, o tratamento é com a própria insulina injetada no corpo. No diabetes do tipo 2, em que a produção de insulina é baixa, o tratamento, além da dieta e atividade física, será com medicamentos ou suas combinações”, explica Adauto.
Complicações: a importância da adesão ao tratamento
Uma pessoa portadora de diabetes dificilmente terá complicações enquanto o tratamento for levado a sério. “O diabético pode chegar aos 80 anos de vida sem nenhuma complicação por causa da doença. Basta seguir à risca o tratamento prescrito para se ter uma vida praticamente normal”, afirma Adauto.
Já para aqueles que não levam a sério o tratamento ou não acreditam nos danos causados pelo diabetes, a glicose alta pode promover uma série de complicações, segundo o especialista, catastróficas. Uma delas é a retinopatia diabética não proliferativa, ou seja, uma alteração ocular que pode evoluir, no futuro, para perda súbita da visão – cegueira.
Outra complicação é a alteração da função renal, provocando doença ou dano ao rim, que pode eventualmente conduzir à insuficiência renal. Se isso acontecer, o paciente terá que fazer diálise, isto é, filtragem do sangue por meio de uma máquina para remover substâncias tóxicas que ficam retidas no sangue quando o rim deixa de funcionar.
Além disso, o diabetes mal tratado pode ocasionar o entupimento dos vasos sanguíneos, levando à amputação de pés e pernas. “O diabetes sem controle é a principal causa de cegueira, amputação e pacientes em diálise”, alerta o especialista. Outra possível consequência danosa é o entupimento dos vasos do coração e do cérebro, causando AVC – acidente vascular cerebral – e infarto.
Todas essas complicações ocorrem somente se o paciente não leva a sério o controle da doença desde o início. Segundo Marina Horta, médica endocrinologista, as metas e o controle da glicemia são alcançados de forma mais rápida quando o paciente faz boa adesão ao tratamento proposto pelo profissional de saúde.
“Nos atendimentos de consultório, percebemos quando o paciente acata nossas orientações, segue o tratamento com medicamentos e muda seus hábitos de vida. Com frequência, as doses dos medicamentos orais e/ou a insulina em uso poderiam ser reduzidas ou até suspensas se o paciente perdesse peso e adequasse a dieta, por exemplo”, observa a médica. Dessa forma, quanto melhor o controle do diabetes, menor a incidência de complicações associadas à doença.
Então, como prevenir a doença e cuidar da saúde se já houver diabetes
Em linhas gerais, a recomendação da SBEM e da SBD é que as pessoas, desde jovens, trabalhem para manter um peso corporal saudável, uma dieta equilibrada e pratiquem de maneira regular atividade física para manter a qualidade da saúde.
Para os que já estão doentes, a sugestão é acompanhar de perto para controlar as taxas de açúcar no sangue. Segundo Marina, o acompanhamento do paciente diabético requer a participação de uma equipe com profissionais de várias áreas da saúde.
“O farmacêutico é peça fundamental nesse apoio. É importante que o paciente saiba, por exemplo, qual o local mais apropriado para manter o frasco ou a caneta de insulina em uso, onde armazenar a insulina que não está sendo utilizada, como organizar os horários dos remédios, facilitar a compreensão dos horários para quem não sabe ler, entre outras ações”, sugere a médica.
O farmacêutico pode ainda orientar a forma correta de usar os medicamentos e explicar como administrar insulina NPH e regular em uma mesma seringa, por exemplo, caso necessário e indicado pelo médico.
O papel preventivo da farmácia no diabetes
Raphael Araújo, farmacêutico responsável pela Saúderia Tudo Mais, destaca o papel preventivo da farmácia nesse cenário. “Por meio da consulta farmacêutica e de testes oferecidos pela própria farmácia, como aferição de glicemia capilar, exame de hemoglobina glicada e avaliação do histórico familiar do paciente, o farmacêutico consegue identificar indícios do surgimento da doença e solicitar exames mais completos para confirmar”, explica.
No entanto, segundo Raphael, o farmacêutico não pode fechar diagnóstico de nenhuma doença. Quando o profissional identifica parâmetros que estão fora do comum, encaminha o paciente para o médico. Para ele, o principal papel do farmacêutico é educar e conscientizar sobre a necessidade de mudança de hábitos alimentares e sobre o uso correto dos medicamentos.
“Educar sobre como a pessoa pode evitar e tratar o diabetes é o principal artifício que a farmácia tem em mãos. A instituição de saúde mais próxima do brasileiro é a farmácia. Nas farmácias da Saúderia Tudo Mais, por exemplo, sempre haverá um farmacêutico capacitado para explicar ao paciente todos os cuidados necessários que o diabético precisa adotar, além de sugerir testes e exames quando necessário”, finaliza.